Estamos no mês de Junho, e junto com ele vem arraigado no imaginário coletivo de nós, brasileiros, a comemoração das festas juninas, uma das maiores tradições culturais do Brasil. O valor simbólico, artístico e criativo desse festejo traz um marco cultural que se expressa em formato coletivo e colaborativo, quase visto como uma causa comum que envolve diversas participações, organizadas socialmente e engajadas coletivamente.
História da Cultura Popular
A cultura popular pode ser entendida como uma expressão produzida e consumida pelo povo, nas suas determinadas regiões. O protagonismo do povo é o que caracteriza a força desse valor cultural, e ele vai de encontro a construção social tradicional de um território, de costumes e manifestações diversas.
As festas juninas, por exemplo, se tornaram um evento multicultural, pois dada a tamanha diversidade em todo canto do Brasil, cada local ganha sua expressão de acordo com suas culturas regionais. Mas é no Norte e Nordeste onde essas raízes se sustentam de forma expressiva, e bastante característica em relação aos seus costumes.
Pra lembrarmos um pouco dos marcos históricos, as festas juninas datam do século XII, na França, em pleno verão Europeu, para celebrarem a chegada do Solstício de Verão. Outros registros históricos remontam o início dessa festa ao século XVI, na Espanha e Portugal. No Brasil, o formato dessa celebração veio através dos padres jesuítas, com uma conotação religiosa, mas logo foram combinadas aos costumes e rituais indígenas e afro-brasileiros, sendo no ano de 1603 os primeiros registros dessa festa.
Inclusive uma curiosidade interessante é que a dança da quadrilha surgiu como forma ritualística de agradecer aos santos pela época da colheita, das chuvas raras e da agricultura.
Alegrias, cores, alto astral, moda, diversão! Forró pé de serra, coco e baião! Todos são indicativos dessa produção criativa que movimenta diversos setores na economia! O mês de junho é época de colheita do milho e amendoim, por isso é o alimento base de diversas receitas tradicionais para esse festejo. É canjica, broa de fubá, pamonha, milho cozido, amendoim torrado, pipoca, cuscuz, e tantas outras delícias.
A organização para as festas juninas é uma verdadeira produção cultural. São diversos elementos para estruturar e compor essa celebração com todo charme e prestígio que ela tem. É fogueira, é dança ensaiada, é música, é canto, é arquitetura, é a confecção de roupas e artesanatos decorativos. Você já parou pra pensar o quanto essa atividade envolve uma cadeia de atividades e produtores?
No livro 'Novas Economias Viabilizando Futuros Desejáveis', um dos pontos abordados pela autora Lala Deheinzelin é sobre a percepção da potência social através da celebração. Num trecho ela diz: "o que se percebe é que são a celebração e seu sabor que sustentam o saber da colaboração, mantendo a coesão dos coletivos. Isso fica evidente ao estudar culturas tradicionais, que sabem que sua sobrevivência depende da colaboração e que são as festas, ritos e encontros que a sustentam. Então toda ação que junta o coletivo seria mais eficaz se fosse desenhada como uma celebração." (p. 139).
Livro: Novas Economias Viabilizando Futuros Desejáveis. Introdução à Fluxonomia 4D por Lala Deheinzelin, Dina Cardoso, e outros. https://youtu.be/CoePyxn-Lpk Saiba mais: https://laladeheinzelin.com.br/ Metodologia: https://laladeheinzelin.com.br/fluxonomia4d/ Rede: https://bit.ly/3gu2bcA
Economia Criativa na prática
Do ponto de vista econômico, a festa junina é um dos eventos que mais contribui na geração de renda e movimento da economia local, principalmente no Nordeste, que tem forte representação da cultura do cangaço. Para trazer um gostinho de como é a vivência dessa tradição, entrevistamos algumas empreendedoras juninas e nordestinas! Que nos contaram um pouco de como acontece essa festa na cidade delas. Uma delas é a Cristina Freire (@restauranteocangaco), de itapoporoca - PB. Nas celebrações das festas, que vão do início de Junho até o fim de Julho, ela tinha uma banca de comidas juninas: pamonhas, caldinhos, tapioca, galinha, macaxeira, caldo de mocotó, cuscuz de mandioca mole. Com a Pandemia, seu negócio precisou se transformar de modo digital e online, com entregas delivery. Investiu em infraestrutura, na produção das pamonhas, e teve um aumento significativo de clientes, impactando cerca de 80% nas vendas! A produção das suas pamonhas é feita num ralo 100% artesanal, se preocupam com a qualidade e origem dos seus produtos, o milho é sem agrotóxico e sua colheita é feita por várias mãos! No início da pandemia e com a proibição dos eventos presenciais, Cristina conta que começou a fazer eventos em formato de lives transmitidas pelo Instagram e Facebook. Convidaram sanfoneiros, zabumbeiros, buscaram ajuda na divulgação com os donos de mercado, lanchonetes e outros parceiros como forma de anunciar seus produtos e levar alegria para quem estava em casa. Nesse ano, prepararam um Combo para São João, com entregas delivery e um cardápio recheado de delícias como milho, tapioca, bolo de macaxeira, pé de moleque, mungunzá, arroz doce, milho cozido, cocada, canjica, raiva (um sequilho feito de goma), carrapicho e pamonha. Hummmmm! Vixi! Quanta coisa gostosa! O reflexo da pandemia nas festas foi percebida no impacto econômico para a comunidade. Cristina contou que nessa época as escolas se tornavam um espaço de geração de renda, cada escola era responsável por um tema junino, e os alunos e família daquela escola eram responsáveis pela fabricação dos produtos de acordo com o tema, que eram vendidos e beneficiavam a todos envolvidos. Também conversamos com Adna, 62 anos, Recife - PE, empreendedora em costura criativa e costura de época na @artmimosatelier. Ela começou fazendo uma fantasia de matuto para a filha passar o carnaval na escola, e sua arte fez os olhos de tantas pessoas brilharem, que depois disso não parou de receber encomendas para costurar roupas de épocas. Para ela, Carnaval, São João e Natal eram os meses de maior movimentação econômica, devido à sazonalidade das festas e dos seus serviços. Com a pandemia, as fantasias para o carnaval e natal ficaram guardadas (e estão até hoje!). Junho era um dos meses que D. Adna e sua irmã Ana Lúcia, mais ganhavam dinheiro. Faziam roupas para todo mundo, pegavam encomendas de escolas e tinham muita demanda de produção e venda. Hoje ela conta com pesar sobre a queda da produção e todo impacto econômico do negócio, mas celebra que com sua participação na Feira Internacional de Negócios Criativos e Colaborativos - FINCC 2021, coordenada pelo Sebrae - PB. Neste evento que movimentou o setor criativo em abril e maio, ela teve oportunidade de inclusão digital, e agora está vendendo seus produtos de forma online. Mas a produção já não é mais como antes, as festas nas ruas ainda estão suspensas. E assim a tradição se sustenta dentro dos moldes que as gerações e o contexto do mundo vão nos levando. Sempre num encontro do passado com o presente! Mas o brilho nos olhos e a emoção das pessoas que vivenciam essa celebração, dentro do coração, essa festa nunca pára!
Em uma conversa e algumas trocas empreendedoras com a Regina Medeiros Amorim que é gestora de Economia Criativa pelo Sebrae Paraíba e convive diretamente com a potência do mercado das festas juninas, tive a oportunidade de conhecer muitos empreendedores desta festa popular. Em sua coluna de Economia Criativa do jornal A UNIÃO - JOÃO PESSOA PB, ela escreve:
"Muita gente ainda está presa a conceitos inadequados para os tempos atuais e que geram impactos negativos à saúde e à qualidade de vida. Inovar a festa junina é ressignificar o que efetivamente traz bem-estar à comunidade. Só porque não tem festa de rua não significa que você não vá brincar São João. Colabora com as novas ideias e maneiras de reacender boas emoções juninas".
A foto é da dona Isaura, mãe da Regina, que com 87 anos, ainda ama festa junina!
Este texto foi construído em parceria com a empreendedora Fluxonomista Débora Casapê da FilosoFiar. Gratidão parceira!!! :)
Meu agradecimento também a todos os clientes.
E, membros da comunidade Fluxonomia Brasil.
Opmerkingen